A liberdade
e o sagrado
Segundo li no Jornal de Notícias, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, insurgiu-se contra as ofensas às religiões, que um pouco (ou muito?!) por todo o lado têm sido cometidas.
D. José Policarpo, que falava na Sé de Lisboa, na missa de Quarta-feira de Cinzas, disse que "o respeito pelo sagrado é algo que a cultura não pode pôr em questão, mesmo em nome da liberdade". Uma clara referência à polémica relacionada com os cartoons publicados na Dinamarca e que deram origem a uma violenta onda de contestação nos países islâmicos.
Há brincar e brincar mas o respeito pelas religiões e pela fé de quem acredita é algo de sagrado.
Quase como o respeito pela pessoa humana!...
15 Comments:
Olá, Em contra-corrente.
Bem, voltamos ao tema.
A questão é jurídica. Falar de respeito moral ou outro não vem para o caso... Como legislar o respeito (religioso e outros) ou não, é que interpela.
Qual a relação entre a lei civil e a lei moral, religiosa e outras. Deve-se ou não proibir civilmente que se desrespeitem as religiões diversas?
Quanto ao resto, claro que D. José Policarpo ou seja quem for tem o direito de exprimir a sua indignação, direito esse aliás garantido pelo mesmo que permitiu a outrém indigná-lo.
E que indefinição é essa do respeito pela pessoa humana? Também deve haver multas e proibições para quem insulta verbalmente o outro?... E o que é "insultar"? Como já aqui disse, se vamos por aí, andamos todos calados e nem uma anedota poderemos contar.
Volta a fazer notar que não estão em causa os limites da calúnia ou incitação directa à violência. O "respeito" é uma categoria muito perigosa juridicamente...
(Bolas, estou farto deste "tema"...;)
Abraço.
Acrescento que penso que o que um celebrante diz numa missa, entendo-o como dirigido aos cristãos, e não aos cidadãos no geral. Aproveitei apenas a deixa, pois que esta passagem das normas dum grupo restrito para o resto da sociedade, tem sido um "ver se te avias" em muito do que tenho ouvido e lido. Também não sei se D. José Policarpo faz tal transição impositória e ilegítima neste caso, mas já o vi fazê-lo em muitos outros... Aliás, nem tenho a certeza que é ilegítima, enquanto expressão, essa transição... Acho que estou a precisar é de ir almoçar... :)
O ser humano é sagrado. As suas ideias e crenças, depende...
O que é verdade é que a fé precisa da crítica como a videira precisa da poda. Sem ela, dispersa-se, enfraquece-se e torna-se estéril.
O problema é quando se usa o nome de Deus para fugir à crítica, ou para a ela reagir violentamente...
E a ante-lucidez precisa da ironia como a videira da poda, e como se sabe, a ironia é sempre passível do veredicto jurídico de desrespeito...
Abraços, e bom dia, ou boa tarde ou lá que horas são... :)
Caro Vítor:
Uma coisa é a ironia, outra a ofensa.
Na poda, cortam-se ramos para que a árvore dê mais e melhores frutos
Creio bem que quem fez e publicou os cartoons teve em conta não criticar o que está mal, mas destruir tudo o que cheira a religião muçulmana. E, se calhar, as outras.
Boa tarde também.
Destruir com um cartoon ou umas frases?!
Avizinha-se a legitimação da censura cultural... ao não distinguir actos físicos de expressões não incitantes...
A ironia, seja em Sócrates seja nos Monthy Pithon, destrói e desfundamenta tudo...
Mas ainda não me disseste nada acerca da legislação, que é o que me parece estar em jogo... Devem ou não proibir-se cartoons (para nos ficarmos pelo exemplo...) desrespeitadores das religiões e etc?...
A liberdade absoluta não pode existir. Se as pessoas se não autocensuram, haverá quem o faça.
Um tribunal alemão proibiu a exibição do filme baseado no caso de Armin Meiwes, condenado na Alemanha por canibalismo.
Fez bem ou mal?!
Quanto a mim fez o que devia, porque há sempre mentes mais fracas que se predisporiam a imitar o canibal.
Quero dizer, Vítor, que há proibições que têm mesmo de ser feitas. A bem da humanidade!
Concordo plenamente contigo, Em contra corrente.
Há bens maiores que têm que ser salvaguardados.
Bjs e bom Domingo.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Cara Em contra-corrente.
Não percebo muito bem porque não me respondes à pergunta directa acerca dos cartoons e da legislação, e me vens agora com o canibal.
Primeiro, não sei se terá havido um aumento de canibalismo prático instigado pelos filmes canibalescos, desde os de série Z ou B ou lá como se diz, dos anos 70, ao famoso Lecter.
Quanto ao caso que contas, a proibição tem que ver com qestões de respeito à privacidade e direitos de autoria. Passa-se que Armin Meiwess, o canibal directamente retratado no filme, não foi tido nem achado pelo uso fílmico do seu caso, e ele próprio recorreu conseguindo a dita proibição e etc. Ou seja, nada tem que ver com a questão de respeitar sensibilidades religiosas ou outras. Misturar alhos com bugalhos é uma técnica de desinformação e não de esclarecimento.
Deixo também uma nota irónica: as porventuras mentes que influenciadas por um filme canibalesco inaugurassem o canibalismo na sua prática de vida, não podem de todo chamarem-se de fracas, caramba! Seriam mentes de verdadeiro heavy metal , e que alias, com ou sem filme, a algum pesado e forte comportamento haveriam de arribar.
Claro que há proibições que têm mesmo de ser feitas, a bem e mal da humanidade ; a questão é quais, como e com que fundamentação.
Um abraço, e outro ao Ver para Crer, ao anonimo e aos restantes.
O desrespeito pelos outros tem de ser sempre censurado. E as leis devem preveni-lo. Mas também as ofensas aos símbolos nacionais são punidas por cada um dos estados a que pertencem.
Perguntas-me se acho que devem ser punidos os cartoonistas que desrespeitam as religiões.
Boa pergunta!
Não sei dar uma resposta de sim ou não. A censura é algo de grave que, a usar-se, terá de ser muito bem usada.
Respondo com outra pergunta:
Se um cartoonista ofendesse os símbolos nacionais, achas que as legislações não deveriam meter-se nisso?
Para mim é mais grave ofender o profeta Maomé ou os seus seguidores do que a bandeira ou símbolos religiosos de um país de confissão islâmica.
"Se um cartoonista ofendesse os símbolos nacionais, achas que as legislações não deveriam meter-se nisso?"
Já deves saber a minha resposta ;), mas seja como for: não, de modo nenhum acho que as legislações devam meter o bedelho nos desrespeitos cartoonistas à Nação.
Como diz o Zé Dias no seu blog http://zedias.blogspot.com, «o problema da liberdade é muito complicado, porque não sabemos lidar muito bem com ela. Ou a absolutizamos e esquecemos a solidariedade e o respeito pelos direitos e a dignidade do outro, sobretudo quando ele é diferente; ou por medo prescindimos dela em favor de quem nos dê segurança. E o medo abre espaço a ditaduras de todo o tipo».
Eu gosto muito da liberdade mas tenho medo dos abusos.
è no respeito que se constroi a paz .
Só hoje tive ocasião de ler o texto completo da homilia referida pela amiga Em contra corrente e achei-a oportuna e com interesse.
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