quinta-feira, março 02, 2006

A liberdade

e o sagrado

Segundo li no Jornal de Notícias, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, insurgiu-se contra as ofensas às religiões, que um pouco (ou muito?!) por todo o lado têm sido cometidas.

D. José Policarpo, que falava na Sé de Lisboa, na missa de Quarta-feira de Cinzas, disse que "o respeito pelo sagrado é algo que a cultura não pode pôr em questão, mesmo em nome da liberdade". Uma clara referência à polémica relacionada com os cartoons publicados na Dinamarca e que deram origem a uma violenta onda de contestação nos países islâmicos.

Há brincar e brincar mas o respeito pelas religiões e pela fé de quem acredita é algo de sagrado.
Quase como o respeito pela pessoa humana!...

15 Comments:

Blogger Vítor Mácula said...

Olá, Em contra-corrente.

Bem, voltamos ao tema.

A questão é jurídica. Falar de respeito moral ou outro não vem para o caso... Como legislar o respeito (religioso e outros) ou não, é que interpela.

Qual a relação entre a lei civil e a lei moral, religiosa e outras. Deve-se ou não proibir civilmente que se desrespeitem as religiões diversas?

Quanto ao resto, claro que D. José Policarpo ou seja quem for tem o direito de exprimir a sua indignação, direito esse aliás garantido pelo mesmo que permitiu a outrém indigná-lo.

E que indefinição é essa do respeito pela pessoa humana? Também deve haver multas e proibições para quem insulta verbalmente o outro?... E o que é "insultar"? Como já aqui disse, se vamos por aí, andamos todos calados e nem uma anedota poderemos contar.

Volta a fazer notar que não estão em causa os limites da calúnia ou incitação directa à violência. O "respeito" é uma categoria muito perigosa juridicamente...

(Bolas, estou farto deste "tema"...;)

Abraço.

quinta mar. 02, 02:08:00 da tarde 2006  
Blogger Vítor Mácula said...

Acrescento que penso que o que um celebrante diz numa missa, entendo-o como dirigido aos cristãos, e não aos cidadãos no geral. Aproveitei apenas a deixa, pois que esta passagem das normas dum grupo restrito para o resto da sociedade, tem sido um "ver se te avias" em muito do que tenho ouvido e lido. Também não sei se D. José Policarpo faz tal transição impositória e ilegítima neste caso, mas já o vi fazê-lo em muitos outros... Aliás, nem tenho a certeza que é ilegítima, enquanto expressão, essa transição... Acho que estou a precisar é de ir almoçar... :)

quinta mar. 02, 02:13:00 da tarde 2006  
Anonymous Anónimo said...

O ser humano é sagrado. As suas ideias e crenças, depende...
O que é verdade é que a fé precisa da crítica como a videira precisa da poda. Sem ela, dispersa-se, enfraquece-se e torna-se estéril.
O problema é quando se usa o nome de Deus para fugir à crítica, ou para a ela reagir violentamente...

quinta mar. 02, 05:57:00 da tarde 2006  
Blogger Vítor Mácula said...

E a ante-lucidez precisa da ironia como a videira da poda, e como se sabe, a ironia é sempre passível do veredicto jurídico de desrespeito...

Abraços, e bom dia, ou boa tarde ou lá que horas são... :)

sexta mar. 03, 12:49:00 da tarde 2006  
Blogger Em contra-corrente said...

Caro Vítor:

Uma coisa é a ironia, outra a ofensa.
Na poda, cortam-se ramos para que a árvore dê mais e melhores frutos
Creio bem que quem fez e publicou os cartoons teve em conta não criticar o que está mal, mas destruir tudo o que cheira a religião muçulmana. E, se calhar, as outras.
Boa tarde também.

sexta mar. 03, 01:43:00 da tarde 2006  
Blogger Vítor Mácula said...

Destruir com um cartoon ou umas frases?!

Avizinha-se a legitimação da censura cultural... ao não distinguir actos físicos de expressões não incitantes...

A ironia, seja em Sócrates seja nos Monthy Pithon, destrói e desfundamenta tudo...

Mas ainda não me disseste nada acerca da legislação, que é o que me parece estar em jogo... Devem ou não proibir-se cartoons (para nos ficarmos pelo exemplo...) desrespeitadores das religiões e etc?...

sexta mar. 03, 03:56:00 da tarde 2006  
Blogger Em contra-corrente said...

A liberdade absoluta não pode existir. Se as pessoas se não autocensuram, haverá quem o faça.

Um tribunal alemão proibiu a exibição do filme baseado no caso de Armin Meiwes, condenado na Alemanha por canibalismo.

Fez bem ou mal?!
Quanto a mim fez o que devia, porque há sempre mentes mais fracas que se predisporiam a imitar o canibal.

Quero dizer, Vítor, que há proibições que têm mesmo de ser feitas. A bem da humanidade!

domingo mar. 05, 08:39:00 da tarde 2006  
Blogger Ver para crer said...

Concordo plenamente contigo, Em contra corrente.
Há bens maiores que têm que ser salvaguardados.
Bjs e bom Domingo.

domingo mar. 05, 08:41:00 da tarde 2006  
Blogger Vítor Mácula said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

domingo mar. 05, 11:48:00 da tarde 2006  
Blogger Vítor Mácula said...

Cara Em contra-corrente.

Não percebo muito bem porque não me respondes à pergunta directa acerca dos cartoons e da legislação, e me vens agora com o canibal.

Primeiro, não sei se terá havido um aumento de canibalismo prático instigado pelos filmes canibalescos, desde os de série Z ou B ou lá como se diz, dos anos 70, ao famoso Lecter.

Quanto ao caso que contas, a proibição tem que ver com qestões de respeito à privacidade e direitos de autoria. Passa-se que Armin Meiwess, o canibal directamente retratado no filme, não foi tido nem achado pelo uso fílmico do seu caso, e ele próprio recorreu conseguindo a dita proibição e etc. Ou seja, nada tem que ver com a questão de respeitar sensibilidades religiosas ou outras. Misturar alhos com bugalhos é uma técnica de desinformação e não de esclarecimento.

Deixo também uma nota irónica: as porventuras mentes que influenciadas por um filme canibalesco inaugurassem o canibalismo na sua prática de vida, não podem de todo chamarem-se de fracas, caramba! Seriam mentes de verdadeiro heavy metal , e que alias, com ou sem filme, a algum pesado e forte comportamento haveriam de arribar.

Claro que há proibições que têm mesmo de ser feitas, a bem e mal da humanidade ; a questão é quais, como e com que fundamentação.

Um abraço, e outro ao Ver para Crer, ao anonimo e aos restantes.

domingo mar. 05, 11:50:00 da tarde 2006  
Blogger Em contra-corrente said...

O desrespeito pelos outros tem de ser sempre censurado. E as leis devem preveni-lo. Mas também as ofensas aos símbolos nacionais são punidas por cada um dos estados a que pertencem.
Perguntas-me se acho que devem ser punidos os cartoonistas que desrespeitam as religiões.
Boa pergunta!
Não sei dar uma resposta de sim ou não. A censura é algo de grave que, a usar-se, terá de ser muito bem usada.
Respondo com outra pergunta:
Se um cartoonista ofendesse os símbolos nacionais, achas que as legislações não deveriam meter-se nisso?
Para mim é mais grave ofender o profeta Maomé ou os seus seguidores do que a bandeira ou símbolos religiosos de um país de confissão islâmica.

segunda mar. 06, 02:25:00 da tarde 2006  
Blogger Vítor Mácula said...

"Se um cartoonista ofendesse os símbolos nacionais, achas que as legislações não deveriam meter-se nisso?"

Já deves saber a minha resposta ;), mas seja como for: não, de modo nenhum acho que as legislações devam meter o bedelho nos desrespeitos cartoonistas à Nação.

segunda mar. 06, 03:48:00 da tarde 2006  
Blogger Ver para crer said...

Como diz o Zé Dias no seu blog http://zedias.blogspot.com, «o problema da liberdade é muito complicado, porque não sabemos lidar muito bem com ela. Ou a absolutizamos e esquecemos a solidariedade e o respeito pelos direitos e a dignidade do outro, sobretudo quando ele é diferente; ou por medo prescindimos dela em favor de quem nos dê segurança. E o medo abre espaço a ditaduras de todo o tipo».
Eu gosto muito da liberdade mas tenho medo dos abusos.

segunda mar. 06, 09:25:00 da tarde 2006  
Blogger PDivulg said...

è no respeito que se constroi a paz .

terça mar. 07, 09:46:00 da manhã 2006  
Blogger Ver para crer said...

Só hoje tive ocasião de ler o texto completo da homilia referida pela amiga Em contra corrente e achei-a oportuna e com interesse.

sábado mar. 11, 06:21:00 da tarde 2006  

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