Natal sem Jesus
Nos últimos anos na Grã-Bretanha, as comemorações de Natal têm provocado um debate no país sobre como lidar com a celebração cristã numa sociedade crescentemente secular e influenciada por outras religiões. Por um lado, há a preocupação de não ofender os não-cristãos; por outro, o medo de despir totalmente o Natal dos significados e símbolos tradicionalmente ligados à festa, num movimento que alguns chamam no país de “Guerra contra o Natal”.
Neste ano, o Canal 4, um dos principais canais da TV aberta, juntou-se ao movimento politicamente correcto e decidiu lançar uma mensagem alternativa ao tradicional discurso de Natal da rainha. Desde 1932, os soberanos britânicos marcam a data com discursos retrospectivos do ano e lembram a importância da fé para os seus súditos.
O Channel 4 decidiu que este ano, no dia 25 de dezembro, vai convidar uma professora primária muçulmana que deve passar uma mensagem, vestindo véu, na mesma hora em que a rainha discursa nos outros canais.
O motivo para a iniciativa foi explicado numa nota oficial. "Parte da responsabilidade do Canal 4 é abrir espaço para vozes e pontos de vista que de outra forma não iriam para o ar. O discurso alternativo apresenta um contraponto à tradicional mensagem da rainha.
"Por outro lado, os Correios britânicos lançaram a sua tradicional série comemorativa de selos de Natal driblando qualquer referência religiosa – o menino Jesus, Maria e José ou qualquer outro elemento religioso. A série deve ter apenas motivos de inverno.
Recentemente, foi divulgada uma sondagem que afirmava que mais de 74% dos empregadores britânicos decidiram abolir a decoração natalina dos escritórios por medo de ofender os não-cristãos. O resultado da pesquisa, porém, foi contestado pelo jornal britânico The Guardian. Numa longa reportagem sobre o debate natalino publicada no início do mês, o jornal afirma que a sondagem era tendenciosa e que boa parte da discussão sobre o assunto tem sido inflamada por sectores tradicionalistas da imprensa e da sociedade britânica.
“A ‘Guerra contra o Natal 2006’ (é) uma guerra que nos mostra muito sobre a politização crescente (…) dos grupos religiosos britânicos, mas que foi quase completamente inventada.”
Para o bispo de Bolton, o reverendo anglicano David Gillet, a discussão não foi totalmente inventada, embora, para ele, ela esteja mesmo sendo exagerada. "Esse é o terceiro ou quarto ano que temos esse tipo de discussão", afirmou Gillet, que preside ao Fórum Muçulmano Cristão britânico.
“Quando você fala com judeus, hindus e muçulmanos, eles dizem que não querem nenhum festival religioso secularizado", afirmou o anglicano.
Ele disse ainda que, após a pesquisa sobre os empregadores, a imprensa britânica não conseguiu localizar nenhum empregador que admitisse ter de facto proibido a decoração natalina. Há cerca de um mês, preocupados justamente com possíveis mudanças que pudessem levar a uma secularização das comemorações natalinas, os integrantes do Fórum enviaram cartas a políticos de toda a Grã-Bretanha com um apelo para que não "descristianizassem" o Natal.
Apesar da acção, o bispo de Bolton não se mostra muito preocupado com a “Guerra contra o Natal”. Para ele, faltam soldados ao exército antinatalino.