quarta-feira, junho 07, 2006

Desconsideração estranha

Que eu saiba, não conheço, neste momento, nenhuma classe tão debaixo do fogo como a dos professores. Para isto, tem contribuído, desde há anos, o Ministério da Educação. Primeiro, por ter possibilitado a indisciplina de muitos alunos que, por vezes, deduzem como impune o seu mau comportamento dentro da saIa. Um apertado bloqueio oficial feito aos professores deu como resultado uma indomável anarquia disciplinar.
Neste momento, algumas medidas anunciadas humilham injustamente uma classe para com a qual todos nós estamos em dívida. Há maus professores? Certamente que alguns. E os médicos? E os juízes? E os advogados? E os jornalistas? E os políticos? E os governantes? Da leitura feita ao que actualmente se projecta, ficamos com a impressão de que nos encontramos indefesos perante uma nova espécie de inimigo público - os professores - os quais urge combater. Trata-se de funcionários do Estado que, como todos os outros, pesam no orçamento, o que é particularmente gravoso em tempo de vacas magras. Parece haver qualquer coisa de recôndito (no fundo, disfarçadamente, também uma tentativa de redução selvagem de despesas sem eliminar o despesismo) para desconceituar uma classe que, ultimamente, tem sido tratada como se fosse o perigoso adversário do país e das famílias.
Estaremos perante uma obsessão do Ministério da Educação que pretende criar simpatias onde supõe haver razões de queixa? Se não é, parece e, como outrora disse alguém, em política o que parece é.
O que agora surge - a prometida intervenção dos pais, assim, sem mais nem menos, que passarão a ser juízes dos professores - denota uma enciclopédica ignorância do que em geral se passa. As convocatórias feitas aos encarregados de educação para encontro com os directores de turma têm uma resposta escassa, atento o habitualmente reduzido número de presenças dos responsáveis pelos alunos. Exceptuem-se alguns espaços sociais onde as famílias tenham maior nível de cultura e mais capacidade para colaborarem com a escola e, por isso, compareçam com outros números ao convite que lhes é feito. Não estamos nos países nórdicos; estamos em Portugal!
Há um escalonamento persecutório que, atingindo actualmente e de modo estranho os professores, os desconsidera e humilha. E, o que é pior, os fragiliza ainda mais perante os atemos. Ao Ministério de Educação compete educar, não destruir. E o que tem vindo a fazer parece que é mais destruir do que educar.
PACHECO DE ANDRADE